As chuvas que devastaram o Rio Grande do Sul, resultando em 172 mortes, foram fortemente influenciadas pelo aquecimento global e pelo fenômeno El Niño, segundo um relatório do World Weather Attribution (WWA). O estudo revela que ambos os fatores duplicaram as chances de precipitação histórica na região. Entre 26 de abril e 5 de maio, choveu mais de 420 mm, o que corresponde ao esperado para três meses, marcando o maior volume de chuva em um curto período já registrado na área.

O relatório aponta que o aquecimento global não só dobrou as chances desses eventos climáticos extremos, como também aumentou a intensidade das chuvas entre 6% e 9%. Regina Rodrigues, pesquisadora da UFSC e coautora do estudo, explica que as mudanças climáticas aquecem a atmosfera, permitindo que ela absorva mais umidade, aumentando assim as chances de chuvas intensas em regiões úmidas como o Rio Grande do Sul. Além disso, o El Niño contribuiu significativamente, duplicando a chance de temporais e intensificando as chuvas entre 4% e 8%.

Os cientistas observam que o El Niño deste ano foi potencializado pelo aquecimento global e pelas temperaturas anômalas do oceano Atlântico, que está 2ºC acima da média. Modelos estatísticos indicam que as chuvas extremas observadas no Rio Grande do Sul são eventos raros, ocorrendo a cada 100 a 250 anos nas condições climáticas atuais. Contudo, com o aquecimento global e o retorno do El Niño, esses eventos podem se tornar mais frequentes. Se a temperatura global subir 2ºC acima dos níveis pré-industriais, as chances de tais eventos triplicarão, com previsões alarmantes para 2040 e um cenário ainda mais úmido entre 2050 e 2100.

Para mitigar os impactos das chuvas, especialistas destacam a necessidade de repensar a infraestrutura das cidades gaúchas. Em Porto Alegre, a enchente foi agravada por falhas no sistema de proteção de inundações, com estações de bombeamento e comportas incapazes de manejar os 4,5 metros de água. A falta de investimento na prevenção de enchentes desde 2021 foi um fator crucial, com recursos destinados a esse fim chegando a zero em 2023, resultando em três das quatro maiores enchentes já registradas na cidade nos últimos nove meses.

O relatório também enfatiza a importância de áreas verdes para absorção natural da chuva. Entre 1985 e 2022, o Rio Grande do Sul perdeu 22% de sua vegetação nativa, principalmente para plantações de soja, contribuindo para inundações que afetaram 90% do estado. A não observância do Código Florestal de 2012, que exige a preservação de 20% das propriedades rurais, e a flexibilização de normas ambientais em 2020 aumentam a vulnerabilidade da população às inundações. Os especialistas concluem que investimentos em infraestrutura e preservação ambiental são essenciais para enfrentar futuros eventos climáticos extremos.

Noticia10

 
 

GALERIA